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terça-feira, 19 de abril de 2016

Em último ato, Kobe Bryant brilha, faz 60 pontos e leva os Lakers à vitória

Kobe Bryant despedida NBA basquete Lakers x Jazz (Foto: Getty Images)
Com 60 pontos e uma vitória conquistada nos últimos segundos, Kobe Bryant escreveu de forma brilhante o último capítulo da sua história. O camisa 24 deixou a quadra do Staples Center sob aplausos, aos gritos de "Kobe, Kobe..." e ao som de Simply The Best, sucesso de Tina Turner. Foi uma despedida inesquecível na vitória de virada dos Lakers, por 101 a 96, sobre o Utah Jazz, nesta quarta-feira, em Los Angeles. Para completar, foi a maior pontuação de um jogador nesta temporada da NBA. Ele superou Anthony Davis, que havia marcado 59 pontos no dia 21 de fevereiro na vitória dos Pelicans sobre os Pistons. 
Kobe Bryant despedida NBA basquete Lakers (Foto: Getty Images)Kobe recebe o carinho dos fãs (Foto: Getty Images)
- Obrigado a todos pelo carinho. Foi inesquecível. Vocês moram no fundo do meu coração. Muito obrigado por tudo o que vocês fizeram. Não só hoje como em toda a minha carreira. Um final perfeito seria com um campeonato. Mas essa noite voltando a jogar bem e proporcionando pela última vez um momento assim a todos me deixa muito feliz - disse o astro, que se tornou o jogador mais velho da NBA a pontuar mais de 50 pontos em uma partida. 
- O mais legal para mim foi que os meus filhos realmente me viram jogar como eu costumava jogar - disse o ala, pai de Natalia e Gianna Bryant.


Antes da partida não faltaram homenagens. Vídeos com depoimentos de ex-companheiros. Clipes com melhores jogadas da carreira. Gritos intensos dos torcedores. Mas quando Magic Johnson pegou o microfone veio o silêncio. Para logo em seguidas todos ficarem de pé com suas palavras: “Kobe foi a maior celebridade desta cidade nos últimos 20 anos. Não apenas um ícone esportivo, mas um dos maiores (jogadores) a vestir o roxo e dourado (cores dos Lakers). Kobe nunca traiu o jogo, nunca enganou seus fãs. E merece tudo isso. Só podemos dizer obrigado.”

O longo abraço entre os dois emocionou. Para os fãs, Magic Johnson segue como o maior ídolo da história dos Lakers. Mas Kobe Bryant foi a figura mais polarizadora que já vestiu a camisa da franquia. Escrever seu nome na história vai muito além de uma análise fria dos números, dos triunfos ou dos fracassos. De ser herói ou vilão. Kobe acumulou todos os momentos. Em larga escala. Tem mais a ver com o vínculo e a ligação emocional criada entre ele e os fãs durante as 20 temporadas em Los Angeles. Foram 1.566 jogos com a camisa dos Lakers. Nunca um jogador defendeu tanto uma equipe na NBA. Uma estrela em uma cidade que respira glamour. Poucas vezes se viu uma relação tão forte. Kobe nunca abandonou Los Angeles. Oportunidades não faltaram. Motivos também não. Mas ele sempre ficou. E pode-se dizer que L.A. abraçou Kobe. 
Todas as câmeras estavam voltadas para Kobe Bryant (Foto: Getty Images)
Kobe estava visivelmente emocionado no início da partida. E ansioso. Como era de se esperar, os primeiros arremessos dos Lakers vieram de suas mãos. Sem direção. Uma infiltração como nos bons tempos, mas a bola insistia em não cair. Quarta tentativa e nada. Quinto arremesso e novamente o aro insistia em atrapalhar.
- Eu era uma pilha de nervos. Foi preciso me acalmar - admitiu Kobe.
Mas aí veio um toco em cima de Trevor Booker. E, em seguida, a primeira cesta. Muito comemorada. E Kobe se inspirou. Vieram mais dois pontos. E outros dois com falta. "Kobe, Kobe..." era só o que se ouvia. O camisa 24 passou a acertar tudo. Mais dois pontos. Depois, uma cesta de três. E ele terminava o primeiro quarto com 15 pontos. (assista o vídeo abaixo)

Kobe não retornou com os Lakers para o segundo quarto. Ficou no banco. Só voltou para quadra na parte final do primeiro tempo. Acertou uma bola de três que levantou os torcedores. E foi para o vestiário com 22 pontos. Utah vencia por 57 a 42, mas o placar pouco importava. Com a vitória do Houston Rockets momentos antes de a partida começar, o Jazz só cumpria tabela. Já não tinha mais chance de chegar aos playoffs.  
Foi engraçado. Na minha carreira toda as pessoas pediam para eu passar a bola. Hoje era o contrário. Queriam que só eu arremessasse" 
Kobe Bryant
Todos queriam ver Kobe. Um fã chinês gastou cerca de 8 mil dólares (cerca de R$ 25 mil) só para assistir à despedida do astro. Um outro, brasileiro, resolveu fazer um bate e volta até Los Angeles para presenciar o jogo histórico. É fácil entender se pensar que Kobe foi a imagem da NBA na era da globalização, o símbolo da liga na era da Internet. 
Veio o segundo tempo e a tática dos Lakers estava clara. Bola para Kobe. O técnico Byron Scott resumia bem o que esperava do jogo: "Deixa ele (Kobe) se divertir". O sorriso característico estava no rosto de Kobe. Vieram mais cestas. E erros também. Nem mesmo dois “air ball”, quando o arremesso nem toca o aro, tiraram o seu bom humor. Kobe estava solto. Arriscava de qualquer lugar. E quando a bola caia os decibéis se igualavam a um show de rock. No fim do terceiro quarto, Kobe acumulava 37 pontos. Sozinho, havia arriscado 34 arremessos. Todo o resto do time dos Lakers, 28. 
Kobe Bryant despedida NBA basquete Lakers x Jazz (Foto: Reuters)Kobe Bryant vai para cima da defesa do Jazz e brilha com 60 pontos em sua despedida das quadras (Foto: Reuters)
No último quarto, os fãs brigavam contra o relógio. Queriam que ele andasse mais devagar. Ou mesmo parasse. Cada segundo era vivido intensamente. Kobe acertou uma bola de três pontos e chegou aos 40 pontos. "Kobe, Kobe...". Veio mais uma. E o ginásio parecia explodir. Ninguém se importava com o fato dos Lakers estarem perdendo mais uma partida, na pior temporada de sua história (17 vitórias e 65 derrotas). Mas Kobe não saiu de quadra. E comandou uma virada improvável tirando uma diferença de 15 pontos nos últimos cinco minutos. Foram 23 pontos só no último quarto. Inspirado nos minutos finais, levou os Lakers à vitória. Uma assinatura perfeita para a despedida. Não havia uma forma melhor dos fãs lembrarem do seu último ato. Jogou 42 dos 48 minutos possíveis. Mais do que qualquer outra partida da temporada.
- Foi engraçado. Na minha carreira toda as pessoas pediam para eu passar a bola. Hoje era o contrário. Queriam que só eu arremessasse - brincou Kobe, que sozinho arremessou 50 bolas contra só 35 do resto dos companheiros dos Lakers e terminou a partida com 60 pontos, 4 rebotes e 4 assistências, além de uma roubada de bola e um toco.
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No fim, Kobe sentia-se aliviado. Conseguiu chegar ao final da temporada. Seu maior medo, desde que anunciou o “tour de despedida”, era que não chegasse até este dia 13 de abril. Ele superou grandes adversários ao longo da carreira. Mas o tempo é cruel e inviolável. Até mesmo para quem parece viver em outro patamar, acima dos mortais. E o camisa 24 passou a ter um rival difícil de superar nos últimos anos, a dor. Nas últimas duas temporadas, só atuou em 41 das 162 partidas. Com 37 anos, não tinha mais o corpo e o fôlego de um garoto. Sacos de gelos espalhados pelo corpo, seja no ombro, no joelho ou no tornozelo, viraram uma imagem característica. 
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Kobe dá adeus em uma temporada que jogou para se divertir. Com média de 17,6 pontos, 3,7 rebotes e 2,8 assistências. Longe dos playoffs desde a temporada 2011/12, os Lakers vão iniciar uma nova fase. Sem a camisa 24 em quadra, que em breve deve ser imortalizada. Acima de tudo, Kobe sempre quis ganhar. Não ganhou apenas títulos, bateu marcas ou garantiu um lugar na história. Ganhou também a admiração dos fãs do basquete. Ele dá adeus. E todos dizem obrigado! 
Kobe Bryant despedida NBA basquete Lakers x Jazz (Foto: Getty Images)Kobe Bryant se despede da torcida (Foto: Getty Images)